
A crise envolvendo o Pix dominou a reunião ministerial conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira (20). No centro do debate, estava a portaria da Receita Federal que previa maior monitoramento de transações financeiras, como as feitas via Pix e outros meios de pagamento. A repercussão negativa forçou o governo a recuar rapidamente, expondo fissuras na coordenação interna.
A polêmica começou com a publicação de uma portaria que tratava de controle e monitoramento mais rigoroso sobre movimentações financeiras realizadas por meios digitais, incluindo o Pix. A medida gerou reações contrárias de diversos setores da sociedade, alimentando especulações de que o governo estaria tentando instituir uma espécie de “taxação” do Pix.
Diante da repercussão, o governo editou uma Medida Provisória para reforçar o sigilo bancário, proibir diferenças de cobrança entre pagamentos em Pix e em dinheiro e descartar qualquer ideia de taxação.
Durante a reunião, Lula deu a entender que não havia sido informado previamente sobre a portaria. Insatisfeito, o presidente determinou que nenhuma medida semelhante seja publicada sem o aval da Casa Civil. Essa orientação reforça a percepção de que o episódio expôs falhas na comunicação e no controle interno do governo.
Para analistas políticos, o Palácio do Planalto “passou recibo” ao corrigir publicamente o erro sem adotar medidas mais contundentes, como demissões na Receita Federal ou no Ministério da Fazenda. Esse contexto alimentou a narrativa de que, mesmo sem sua anuência, o presidente pode ter sido comprometido pela ausência de articulação entre as pastas.
A crise do Pix serviu como alerta para o Planalto, que já se prepara para as eleições de 2026. Lula deixou claro que não há espaço para erros que possam comprometer a relação com a base política e, principalmente, com a população.
Na avaliação do presidente, os resultados do governo ainda não estão sendo percebidos pelas pessoas. “Temos que trabalhar porque a eleição já começou”, disse Lula, sinalizando que o foco deve ser em entregas concretas que impactem diretamente o cotidiano do cidadão.
A crise também deve acelerar uma esperada reforma ministerial. Lula já articula possíveis trocas na Esplanada, buscando fortalecer alianças com partidos como PSD e MDB. Além disso, deu carta branca ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para intensificar a articulação com o Congresso.
Na prática, Lula começou a “enquadrar” sua base partidária –PT, PCdoB, PV, PSB, MDB, PDT, União Brasil, Republicanos, PP, PSD, Avante, Solidariedade, Rede e PSOL– nas vésperas das eleições para as mesas da Câmara e do Senado. O alinhamento das legendas com o projeto de reeleição em 2026 determinará a continuidade ou mudanças no primeiro escalão.
Dito isso, a crise do Pix, reforça a necessidade de maior centralização e articulação no governo. Com 2024 adiado como o “ano da colheita” para 2025, o Planalto sabe que a margem para erros está se estreitando, especialmente diante de adversários políticos que já se movimentam em busca de protagonismo.
Enquanto isso, Lula terá que equilibrar cobranças internas e externas, garantindo que a narrativa de avanços concretos prevaleça sobre crises como a do Pix.
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