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Líder religioso aponta contradições de evangélicos que apoiam Bolsonaro


Eles se diferenciam dos que acham o presidente Jair Bolsonaro "um profeta", como disse o novo ministro da Justiça, André Mendonça; não se alinham à disseminação de fake news que serve de base para o público evangélico abraçar o atual governo; defendem o Estado Democrático de Direito; e apontam contradições anticristãs entre esses apoiadores. O Fórum Evangelho e Justiça, que reúne lideranças de congregações religiosas da Grande Vitória, desenvolve ações de solidariedade com aqueles que mais sofrem no período de crise e, como movimento representativo de parte da sociedade, se envolve no emaranhado da crise política, econômica e social que atinge o Brasil, ressaltando que não possui conotação político partidária.

"Um conjunto de fatores contribuíram para o apoio evangélico a Bolsonaro em 2018. Ele representou para muitos evangélicos [e ainda representa] tanto uma possibilidade de combate à corrupção quanto a defesa de valores morais aceitos por grande parte da igreja brasileira. Além disso, o antipetismo, as ameaças da destruição da família tradicional, a disseminação de fake news e o medo a um tipo de erotização da infância, com bases homofóbicas, lançaram muitos evangélicos nos braços do atual presidente", enumera Kenner Terra, coordenador do Fórum.


Sobre esse apoio do público evangélico ao presidente, mesmo diante de posicionamentos anticristãos, sempre marcados pelo preconceito, ódio e demonstrações de ineficiência para tocar o País, o líder evangélico comenta: "O discurso dualista (nós x eles, cidadão de bem x esquerdistas), a linguagem com traços evangélicos e o favorecimento de algumas lideranças alimentam ainda mais os laços com parte desse grupo de cristãos brasileiros".


Kenner acrescenta que seja por ignorância política, arrogância por não admitirem o erro ou terem uma relação religiosa com Bolsonaro, alguns blindam-no de qualquer análise e aceitam acriticamente todos os seus atos e falas, tendo que justificar o injustificável. "Parece-me haver um tipo relação religiosa com a figura do presidente e sua visão de mundo, o que não os permite perceber suas contradições e nítidas marcas anticristãs".

Kenner, que também é pastor e professor, afirma: "Como uma rede de líderes evangélicos, assim como fez Jesus e a igreja apostólica, o Fórum solidariza-se com aqueles que mais sofrem, mas não somos uma organização com posicionamento político partidário. Nossa principal preocupação é a popularização e conscientização da relação entre Justiça, equidade, Direitos Humanos e a fé protestante".

Ele comenta ainda que "em relação à atual crise pela qual o Brasil e mundo passam, posicionamo-nos publicamente em total apoio às orientações dos profissionais da saúde e à ciência, ao mesmo tempo em que entendemos ser necessário o apoio financeiro e ações por parte do Estado para preservação dos postos de trabalho e socorro dos mais fragilizados".

Tais ações, segundo Kenner, são inevitáveis para a preservação dos direitos fundamentais garantidos pela constituição e tratados internacionais. "Nesse sentido, avaliamos com preocupação as atuais tensões econômico-políticas, agravadas com a pandemia. Além disso, somos peremptoriamente contrários a qualquer posicionamento que relativize os direitos individuais, desconsidere as pessoas com maiores necessidades, remova direitos adquiridos ou afronte a legitimidade do Estado Democrático de Direito".

A declaração de Bolsonaro de que não tem nada com as mortes causadas pela Covid 19, divulgadas na semana passada, foi refutada por Kenner Terra: "Desde o início dessa crise sanitária, Bolsonaro se mostrou despreparado e incapaz de conduzir a nação no combate à pandemia. Na contramão dos profissionais da saúde, das maiores nações do mundo e da ciência, o líder da nação relativizou a gravidade do coronavírus e suas consequências".

Acrescentou: "Como é comum em suas declarações, apresentou dados confusos, desqualificou a ciência, desmoralizou instituições responsáveis pela análise e enfrentamento da Covid-19, trocou o ministro aprovado pela maioria da nação (por personalismo e por se sentir ameaçado) e fez declarações absurdas e irresponsáveis".

O coordenador do Fórum destaca: "Quando o presidente, ao ser questionado a respeito das mortes por coranavírus, respondeu "e daí!? Eu sou messias, mas não faço milagre", ao lado de outras falas absurdas, mais uma vez revelou insensibilidade às vítimas e às famílias ilutadas e deixou claro seu total despreparo e declarada falta de compreensão de suas obrigações como presidente da república, a saber, governar e liderar o Brasil tomando medidas necessárias para a nação enfrentar a atual crise".

Ele comenta que, "além disso, sua tática é sempre falar aos seus apoiadores a fim de fortalecer a militância, e quando a insustentabilidade de suas ideias é exposta, usa a estratégia da ignorância e descaso, como se não precisasse dar conta dos seus pronunciamentos".

Em resposta à pergunta sobre o que é o Fórum Evangelho e Justiça e quais as ações colocadas em prática, a fim de defender o ser social e integrá-lo na construção de uma noção sociedade, ele explica que o movimento foi criado a partir do diálogo entre alguns representantes de igrejas evangélicas da Grande Vitória, "a fim de refletir sobre fé e espaço público".

"Reconhecendo que a existência e origem do Estado Democrático de Direito, as ideias básicas dos Direitos Humanos e a preocupação com o bem-estar social estão historicamente relacionadas ao Protestantismo e, antes disso, à tradição Bíblica, o Fórum foi construído para visibilizar e fomentar a relação entre esses temas e a fé evangélica", complementa.

Kenner ressalta que o Fórum reúne membros com diversas perspectivas ideológico-políticas, os quais encontram na relação entre direitos humanos e igreja evangélica um lugar comum. "Por isso, diferentemente de outros espaços e organizações de igrejas, nós não temos um setor ou conselho político. Inclusive, entendemos ser sempre urgente a separação entre Igreja e Estado, a preservação do Estado Democrático de Direito e a liberdade de expressão e consciência, como aprendemos com a história e tradição protestantes".

Ele frisa que o movimento não tem pretensão de representar as igrejas evangélicas em geral, qualquer região ou denominação do Estado. "Como uma rede independente e marcadamente interdenominacional, o Fórum Evangelho e Justiça representa somente os líderes, pastores e pastoras membros, os quais acreditam ser o tema da justiça uma parte importante da responsabilidade a Igreja de Cristo".

Em 2019 foi realizado o primeiro workshop, quando discutiram o papel e responsabilidade das igrejas evangélicas em relação ao racismo, violência de gênero e sistema penitenciário. "Hoje, já estamos em diversos setores de diálogo público e recebemos apoio de igrejas locais, cuja liderança se identifica com as nossas preocupações. Não temos qualquer sistema de arrecadação e todas as nossas movimentações são realizadas voluntariamente".

Kenner acredita que o Fórum possibilita a conscientização e articulação pública a fim de promover o tema dos direitos fundamentais da pessoa humana a partir da tradição bíblica e história do Protestantismo.

Entre algumas pautas aceitas como parte de suas ações, destaca: promover espaços nas comunidades de fé evangélica que popularizem narrativas favoráveis da relação entre fé e direitos humanos, tendo o "Reino de Deus e sua justiça", anunciado por Jesus; visibilizar movimentos evangélicos que se organizam para discutir e defender a pauta dos Direitos Humanos; utilizar mecanismos e ferramentas para mobilizar vozes de dentro do movimento evangélico preocupadas com a relação entre justiça e aos direitos humanos; contribuir com a ampliação de informações sobre o papel da Igreja junta às Redes de Políticas Públicas.

E ainda: tornar acessível às igrejas as políticas sociais adotadas pelo Brasil; contribuir com as igrejas na identificação e no reconhecimento das demandas sociais da comunidade/sociedade a fim de somar às demais instituições da Rede na luta por defesa, proteção e garantia dos direitos humanos; e ajudar as igrejas a perceberem suas demandas locais, a fim de somarem às demais instituições que lutam por direitos.

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