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‘Nada a Perder’ e os ‘recordes’ de bilheteria do cinema evangélico



O ATOR PETRÔNIO GONTIJO, QUE INTERPRETA EDIR MACEDO, EM CENA DE 'NADA A PERDER' O filme “Nada a Perder” entrou em cartaz em 1.108 salas de cinema brasileiras em 29 de março de 2018. O longa-metragem narra a vida do bispo evangélico Edir Macedo e é o primeiro de uma trilogia inspirada em três livros best sellers de mesmo nome. Trata-se do terceiro maior lançamento já feito por um filme nacional: sua distribuição ocupa um terço das salas de cinema do país. Junto com sua sequência, prevista para 2019, “Nada a Perder” teve orçamento de R$ 40 milhões e 4 milhões de ingressos vendidos na pré-venda. Foi feito com investidores privados e não usou leis de incentivo. Foi dirigido por Alexandre Avancini, mesmo de “Os Dez Mandamentos” (2016), adaptação de novela da Record, emissora que pertence a Edir Macedo. O roteiro é do americano Stephen P. Lindsey, de “Sempre ao seu Lado”, drama estrelado por Richard Gere. Quatro décadas da vida do líder da Igreja Universal são condensadas em “Nada a Perder”: desde a infância, retratada em tom romântico, até a fundação da igreja, quando se aproxima de um thriller, segundo o jornal O Globo. A prisão em 1992, sob acusação de charlatanismo, estelionato e curandeirismo, também aparece no filme. O filme estará disponível na Netflix três meses após entrar em cartaz e tem distribuição internacional garantida para a América Latina, África do Sul, Angola e Moçambique, países onde a Universal tem presença. No Brasil, também haverá sessões itinerantes em presídios, hospitais e escolas. As acusações de bilheteria inflada Apesar do sucesso comercial, jornais têm apontado discrepância entre número de ingressos vendidos e ocupação real das salas. Durante o primeiro fim de semana em que a cinebiografia entrou em cartaz, no início de abril, o jornal Folha de S. Paulo visitou nove sessões e reportou não haver salas lotadas, apesar da venda massiva de ingressos. A reportagem d’O Globo também foi a três sessões do filme no Rio de Janeiro, na data de estreia, e afirma que cerca de 40 pessoas compareceram a cada uma, em salas de mais de 200 lugares. Ainda segundo o jornal, espectadores presentes relataram que os ingressos estão sendo distribuídos por pastores aos fiéis da Igreja Universal. Em uma outra reportagem, publicada no dia 28 de março, o Globo questionou três grandes exibidoras sobre haver algum tipo de parceria com a Universal. Apenas a Kinoplex confirmou ter vendido pacotes de ingressos para pastores e grupos a partir de cem pessoas, nos quais todos pagam meia-entrada. A UCI disse vender ingressos em grupo, “como faz com qualquer filme”, e a Cinemark não se pronunciou. A compra de ingressos para grupos e fechar salas para exibições é uma prática comum. O que é questionado pelas investigações é o esvaziamento das salas. Questionada pelo Nexo sobre a quantidade de ingressos vendidos para sessões de “Nada a Perder” versus a ocupação das salas, a Ancine, Agência Nacional do Cinema, disse não ser competência do órgão federal fiscalizar se as salas de cinema estão com sua ocupação real. O acompanhamento feito pela agência, para elaboração de análise do mercado e cumprimento da cota de tela, se restringe à quantidade de ingressos vendidos e filmes exibidos, informações que são fornecidas pelos próprios exibidores. Publicada no dia 9 de abril, uma nova reportagem do jornal carioca chamou atenção para a nota de “Nada a Perder” no IMDb, que concentra quase todas as avaliações na nota máxima, enquanto classificações de outros filmes bem cotados oscilam entre as notas 7, 8, 9 e 10. O Nexo verificou, no dia 10 de abril, que 84,5% (cerca de 16 mil votos) dos usuários que avaliaram o filme haviam dado nota dez, concentração que destoa dos gráficos de avaliação de outros filmes na plataforma: normalmente, a distribuição de votos é mais pulverizada entre as notas. ‘Os Dez Mandamentos’ Em 2016, quando a adaptação da novela da Record para o cinema foi lançada, reportagens também apontaram para um êxito artificial de público. “Os Dez Mandamentos” se tornou o filme nacional com maior número de ingressos vendidos desde a criação da Embrafilme, em 1970, quando a contagem teve início. Na época, a Universal negou ter comprado diretamente pacotes de ingressos. A resposta da Universal Em nota divulgada em 23 de março de 2018, a Universal negou novamente a compra de entradas de cinema, desta vez para “Nada a Perder”. Acusou a imprensa de “despejar fake news (notícias falsas) para tentar diminuir a importância da espetacular bilheteria”, de ser rancorosa e preconceituosa. A igreja declarou estimular seus adeptos a assistirem ao filme, por considerar a história de Edir Macedo edificante, e disse existir uma mobilização espontânea de grupos e de membros da Universal, “que se organizaram para que o maior número de pessoas tenha chance de assistir ao filme”. Afirmou, ainda, que espíritas impulsionaram a audiência dos filmes “Chico Xavier” e “Nosso Lar” e católicos lotaram sessões de “Aparecida – O Milagre” por meio do mesmo tipo de mobilização mas, que, ao contrário dos filmes evangélicos, o fato não virou notícia. Para efeito de comparação, “Nosso Lar” foi lançado em 2010 em cerca de 400 salas brasileiras, um lançamento quase três vezes menor em relação a “Nada a Perder”. O fenômeno Além de “Os Dez Mandamentos” e “Nada a Perder”, outras produções recentes miram no público evangélico e cristão. Com lançamento previsto para outubro de 2018, o filme “A Palavra” transforma o profeta bíblico Elias em pregador no sertão, e seu sucessor Eliseu, um engenheiro que trabalha na transposição do rio São Francisco. A produtora Anjoluz, da advogada pernambucana Zitah Oliveira, que é evangélica, foi criada em função do filme. A catarinense Red Films também produz filmes focados na temática cristã. Desde 2013, é realizado no Rio de Janeiro o Festival Nacional de Cinema Cristão. Internacionalmente, também há distribuidoras e produtoras especializadas nesse nicho.


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