
Ainvestigação da Polícia Federal sobre supostos desvios de recursos destinados a gabonetes parlamentares ganhou força com a decisão do Supremo Tribunal Federal de permitir buscas contra dois deputados do PL, partido do ex-presidente condenado Jair Bolsonaro: Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do Rio de Janeiro. Os agentes federais, ao cumprirem os mandados em endereços de Sóstenes em Brasília, descobriram uma quantia expressiva de R$ 430 mil em espécie, guardada de forma dissimulada em um saco de lixo no interior de um um flat alugado pelo político. Essa soma representa 87 vezes o montante que o parlamentar reportou à Justiça Eleitoral como patrimônio durante sua campanha de 2022. Como figura central no maior bloco partidário na Câmara [ele é lider da sigla], Sóstenes ocupa uma posição de destaque no cenário político e jamais poderia ter ocultado fatos dessa natureza.
De acordo com os detalhes apurados pela Fórum, a suspeita recai sobre o emprego de funcionários nomeados por critérios políticos para canalizar fundos públicos indevidamente. Esses recursos, originalmente alocados para custear locações veiculares no exercício das funções parlamentares, teriam sido manipulados através de estruturas empresariais fictícias “em benefício próprio” dos envolvidos.
Uma das firmas em questão, a Harue Locação de Veículos Ltda, aparece registrada em nome de uma cidadã que acessou R$ 4.500 em benefícios de emergência em anos recentes, mas as apurações indicam que ela seria controlada, na verdade, por um auxiliar próximo de Jordy, com administração a cargo de parentes dele. Os investigadores acreditam que os congressistas efetuavam transações com essa entidade para, em seguida, obterem restituições via verba indenizatória da Câmara.
Os elementos que embasaram a aprovação judicial incluem “indícios robustos”, como classificou o STF, divididos em três pilares principais.
O primeiro envolve padrões de movimentações financeiras suspeitas, com retiradas e ingressos de valores fragmentados, sempre abaixo de R$ 9.999, uma tática conhecida como “smurfing” que visa burlar os mecanismos de detecção automática das instituições bancárias.
O segundo são as provas que englobam diálogos capturados em aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, que discutem repasses “por fora”, além de conteúdos resgatados diretamente dos aparelhos dos alvos. Para tanto, foi autorizada a análise de comunicações telefônicas de ambos os deputados, abrangendo o período de maio de 2018 até dezembro de 2024.
Por fim, o terceiro pilar concentra-se na contratação da Harue Locação de Veículos Ltda. ME, caracterizada como “empresa de fachada”. Embora formalmente vinculada à mulher beneficiária do auxílio, as evidências apontam para sua ligação real com o círculo de Jordy, reforçando o esquema de simulação de despesas para apropriação indevida de verbas públicas.
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