
Comandada pelo governador por Cláudio Castro (PL), a chacina nos bairros da Zona Norte da capital fluminense deixou pelo menos 120 mortos – número que pode crescer nas próximas horas – e causou caos em toda a cidade. Jacqueline destacou que esse tipo de operação violenta serve somente para sustentar a política de produção da insegurança como projeto de poder para elevar o resultado eleitoral.
"Matança dá voto, sim, porque quem mata tem mérito e quem morre tem merecimento neste discurso bravateiro de políticos irresponsáveis e apocalípticos que vendem uma coisa que não podem entregar. Por isso, você não pode dizer se ele está certo ou errado. Ele está sempre ali como um pregador do Senhor da Guerra, do profeta do caos e do mercador da proteção", afirmou a pesquisadora.
Ela ainda acrescentou que a falta de integração com outras forças policiais, como a federal e a municipal, foi organizada de forma proposital para que o governador pudesse protagonizar a situação. "Era tudo preparado para ele brilhar, para ele fazer estatística e filminho de Instagram. E como é que você faz isso? Aparelhando medo, o medo é péssimo conselheiro", apontou.
"Diante do medo, todos abrem mão das garantias individuais e coletivas a favor do primeiro maluco bravateiro que promete proteção. Acontece que a proteção é fidelizada pela ameaça permanente, e o seu protetor de hoje é o seu tirano de amanhã que vai lhe sequestrar direitos. O que nós estamos assistindo são governos policialescos e governos criminais".
Jacqueline destacou os principais pontos que levaram ao trágico cenário vivido pela população do Rio de Janeiro. A pesquisadora citou que se a polícia tivesse seguido suas próprias regras de procedimentos operacionais, não haveria tido a "lambança operacional". A pesquisadora mencionou como o primeiro erro a falta de sustentação da operação, que mobilizou mais de 10 mil policiais para uma ação imediata sem planejamento a longo prazo e estoque repressivo. "Por isso que nenhuma operação produz resultados para além do imediato, e nem é capaz de sustentar seu resultado repressivo, porque ela não produz controle nem sobre território, nem sobre população".
Em segundo lugar, segundo a especialista, a operação também inviabilizou a resposta de emergência ao não planejar a ocorrência de policiais em outras áreas da cidade. Esse cenário foi construído, de acordo com ela, porque a polícia do Rio de Janeiro segue a lógica de uma "polícia de espetáculo" que é completamente distinta da doutrina internacional de uso potencial e concreto de força e da doutrina de operações especiais policiais. Além disso, essa falta de policiais em outros bairros também levou a conflitos nesses locais, causando ainda mais caos e violência na cidade.
"Essa operação não passou no 'Enem das operações policiais'. Não passou no 'Enem da doutrina de polícia'", afirmou Jacqueline. Ela chamou atenção para o fato de não ter tido a participação do Ministério Público, da Defensoria Público, do Corpo de Bombeiros e nenhum outro órgão de prontidão para incidir na operação em caso de erro e acidente. "Foi a viatura da PM levando o próprio policial morto e o resto foi cidadão catando o corpo por aí e estendendo no chão. Então, você não teve a presteza de socorro, que é fundamental", afirmou.
Outro ponto que evidencia não só os erros da operação, mas como ela serviu a essa lógica de produção de insegurança, de acordo com a antropóloga, foi a falta de uma central de emergência, informando ao cidadão sobre como se locomover pela cidade. "As pessoas ficaram perdidas, não sabiam se podiam voltar para casa, qual ônibus pegar, se podiam pegar seus filhos na creche, se podiam chegar ao trabalho. Muita gente perdeu o emprego. Então, você tem uma perda de riqueza, porque segurança pública não é reduzir crime, violência e desordem, não. Reduzir crime, violência e desordem é um meio para atingir um fim", afirmou a pesquisadora.
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