
Além de alfinetar Jair Bolsonaro e mandar recado a Hugo Motta (Republicanos-PB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o evento de anúncio Plano Safra 2025-2026, nesta terça-feira (1), lançou um desafio aos empresários do agronegócio e ruralistas que estavam na plateia.
O agro foi um dos setores que mais apoiou a tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro e alguns nomes, inclusive, chegaram a se envolver com a trama golpista. Atualmente, o setor é um dos mais críticos à política econômica do governo Lula, mas o presidente fez questão de destacar o bom momento da economia brasileira e desafiou os empresários e analisarem os números.
"Cheguem em casa hoje à noite e peçam para colocar na cabeceira da cama de vocês todos os números da economia, todos, todos os números da economia. Quanto de crédito está fazendo a Caixa Econômica? Quanto de crédito está fazendo o Banco do Brasil? Quanto de crédito está fazendo o BND? Quanto de crédito está fazendo o BASA? Quanto de crédito estão fazendo os bancos privados? Quanto de crédito está fazendo o BNDS? Qual foi o crescimento? Qual é a inflação? Qual é o crescimento da massa salarial? O crescimento do salário mínimo? Façam! Para vocês perceberem que há muitos anos esse país não estava na situação extraordinária e respeitada como ele está", declarou Lula.
Veja vídeo:
Confira abaixo os números mencionados por Lula:
Crédito da Caixa Econômica Federal em março 2025: R$ 1,266 trilhão
Carteira de crédito do Banco do Brasil em 2025: R$ 400 bilhões
Crédito do Banco do Nordeste em 2025: R$ 920,67 bilhões
Crédito do Banco da Amazônia em 2025: R$ 61,1 bilhões
Crédito do BNDES em 2025: R$ 584,8 bilhões
Crescimento da economia brasileira entre janeiro de 2023 e junho de 2025: 7,1%
Inflação (último IPCA 2025): 4,9%
Crescimento da massa salarial entre janeiro de 2023 e junho de 2025: 7,4%
Crescimento do salário mínimo entre janeiro de 2023 e junho de 2025: 15,9%
Recado a Hugo Motta
Em um forte discurso a uma plateia lotada de ruralistas no lançamento do Plano Safra de 2025, nesta terça-feira (1), o presidente Lula se mostrou indignado com a "ganância" e a "canalhice" da "indústria do lobby" que tem atuado em conjunto com Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara, e Davi Alcolumbre (União-AP), do Senado, em um golpe dos ricaços, antecipando a disputa presidencial de 2026.
Lula ainda lembrou que em 2006, no seu segundo mandato, o Brasil chegou à sexta economia do mundo e falou que "não precisa nenhuma briga para dar um salto de qualidade".
"A gente quer que o povo que não está aqui, que só aparece na fotografia passando necessidade, tenha o direito de crescer, de dar um salto de qualidade, ganhar um salário melhor".
O presidente começou falar sobre Justiça Tributária defendendo a medida do governo que prevê o aumento do Imposto de Renda para aqueles que ganham mais de R$ 50 mil mensais para compensar a desoneração de milhões de brasileiros que recebem mensalmente até R$ 5 mil.
"Quando a gente coloca que as pessoas que ganham mais de R$ 1 milhão têm que pagar um pouco mais, há uma rebelião. Nós estamos querendo que 140 mil pessoas paguem uma parcelinha a mais para beneficiar 10 milhões de pessoas. É tão pouco", disse o presidente.
"Vamos tentar estabelecer que um dia esse país vai ter uma política fiscal justa. É difícil. É muito difícil. Porque não é nem intenção, porque todo mundo é muito bem formado, todo mundo é muito bem letrado. Só pode ser ganância. Só pode ser a desgraçada doença de acumulação de riqueza", emendou.
Lula ainda se mostrou indignado com a "canalhice" da Faria Lima, ecoada pela mídia liberal e pelo Centrão, pedindo que o ajuste fiscal seja feito sobre os ganhos do salário mínimo e das aposentadorias e com cortes nas políticas sociais.
"E eu fico triste quando eu vejo as pessoas jogarem a culpa em cima dos doentes, em cima do BPC, em cima do Bolsa Família, em cima do pé de meia para garantir que 500 mil moleques que desistiam da escola para trabalhar não desistam, pelo amor de Deus, voltam a estudar, porra. Esse dinheiro que você está recebendo vai ser devolvido em dobro para o Estado quando vocês tiverem formado cidadão de primeira classe nesse país. É difícil fazer as pessoas compreenderem isso. É. Se a gente continuar estabelecendo que vai predominar na nossa cabeça o desejo de mentir, o desejo de fazer canalhice quando a gente deveria fazer coisa séria", afirmou.
Em seguida, Lula se referiu diretamente às conversas que mantém com os presidentes da Câmara e do Congresso desde que assumiu o terceiro mandato.
"Eu disse ao [Rodrigoo] Pacheco quando eu tomei posse, disse ao [Arthur] Lira e depois eu disse mais recentemente ao Alcolumbre e ao Hugo Motta. Esse país será o que a gente quiser que ele seja. É só a gente determinar o tamanho que a gente quer que esse país seja. Para isso é preciso diminuir os privilégios. Ninguém está querendo tirar nada de ninguém. Queremos apenas diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direito para os outros".
Em seguida, Lula denunciou a "indústria do lobby" que atua em prol do golpe dos ricaços no Congresso Nacional.
“Esse país será o que a gente quiser que ele seja. É só a gente determinar o tamanho que a gente quer que o país seja. Para isso, é preciso diminuir os privilégios de alguns para dar um pouco de direito para os outros. De repente, você vê o lobby. Não virou uma pessoa que é lobista, virou uma indústria de lobby. Hoje em dia a gente quer taxar essas bets, essa coisa que você não consegue mais ver televisão porque é tanta propaganda de aposta. [...] Quanto custa fazer essa bet? E o tamanho do lucro? E essas pessoas se rebelam".
Lula ainda criticou a narrativa de "aumento de imposto", lembrando que "a carga tributária desse governo hoje, percentualmente, é menor do que era em 2011". E criticou a política de desonerações levada a cabo por Paulo Guedes durante o governo Jair Bolsonaro.
"Porque o que a gente está fazendo de opção não é tentar aumentar imposto, é tentar fazer uma tributação mais justa, mais correta. Eu fui contra quando o Senado aprovou a última desoneração para 17 grupos econômicos. Você faz desoneração a troco de quê? O que você ganha? Vão dar estabilidade no emprego? Não. Vão aumentar salários? Não. Vão contratar mais trabalhadores? Não. Então para que a desoneração, aumentar o lucro?”, indagou.
Em seguida, o presidente comparou Guedes com o ministro da Fazenda Fernando Haddad, ressaltando a "desaforada" cobrança de "estabilidade fiscal", que não acontecia no governo anterior.
"Então, companheiros, eu queria que vocês soubessem o seguinte, poucos países do mundo tem um ministro da fazenda com a seriedade que o Haddad tem. [...] Eu via na televisão a quantidade de bravata que o Guedes fazia nesse país. O Guedes nunca pediu favor para ninguém. Por que ninguém cobrava estabilidade fiscal no governo passado? Por que ninguém cobrava o teto de gastos? Que foi, possivelmente, o momento mais irresponsável desse país".
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