Tem live, gritaria, venda de capacete, entrevistas e até sanfoneiro. Não, não é quermesse nem festival de forró, é a UTI que permite o picadeiro do ex-presidente. Conselho de Medicina agora vai apurar

Nos últimos dias o Brasil conheceu um conceito até então inédito por aqui: a “UTI da fuleragem”. Jair Bolsonaro (PL) fez uma cirurgia de 12 horas no hospital de luxo DF Star, da Rede D'Or, em Brasília, e desde o encerramento do procedimento, há 12 dias, foi colocado numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Quem imagina um local hermeticamente fechado, blindado contra infecções, com acesso restritíssimo e protocolos rígidos aparentemente se engana. Pelo menos ao constatar a sucessão de eventos inacreditáveis e descabidos que ocorrem por lá.
O que se viu desde então é um verdadeiro show de horrores. Quase sempre seminu e com inúmeros fios, sensores e sondas grudados pelo corpo, para monitoramento, Bolsonaro grava vídeos várias vezes por dia, recebe dezenas de visitantes esfuziantes e empolgados sem qualquer tipo de equipamento de proteção, faz lives, dá entrevistas, faz anúncio de venda de capacetes, coloca o filho Eduardo para ameaçar ministros do Supremo, grita com profissionais enquanto recebe e constrange (em tom intimidatório) uma oficial de justiça e ainda acolhe seu ex-ministro sanfoneiro. Pois é, parece um festival de forró, uma quermesse ou um baile funk, mas é uma UTI.
"O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal irá apurar os fatos ocorridos no Hospital DF Star, entretanto tais procedimentos são amparados pelo sigilo processual. As UTIs acolhem pacientes em condições de saúde delicadas, exigindo ambientes rigorosamente controlados para favorecer a recuperação. O aumento no número de pessoas circulando nesses espaços pode comprometer a evolução clínica dos pacientes e aumentar o risco de infecções hospitalares”, diz uma nota do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal enviada à coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Não fica claro se a reação do órgão resultará em algum tipo de sanção ou investigação mais rigorosa em relação à unidade em questão, tendo em vista o alinhamento do CFM e dos CRMs às pautas bolsonaristas nos últimos anos, uma das mais incompreensíveis “parcerias” surgidas desde o levante ultrarreacionário que se instalou no Brasil, especialmente por Bolsonaro ser um sujeito abertamente negacionista, anticiência e dar sempre declarações relativizando e brindando a morte, posturas que deveriam ser prontamente rechaçadas por médicos.
Por outro lado, fontes ouvidas pela Fórum afirmam que a instauração do procedimento poderia ter outra razão. Na verdade, os bolsonaristas do CRM-DF teriam ficado irritados com o ingresso no local da oficial de justiça enviada pelo STF que foi citar o ex-presidente. A indignação não seria pela balbúrdia generalizada instalada numa área de cuidados intensivos do hospital, mas sim pelo fato de a servidora ter cumprido sua função após o ministro Alexandre de Moraes ter determinada a citação do réu por vê-lo "bem" na UTI, fazendo lives, dando entrevistas, rindo, gritando e até lançando ameaças contra as autoridades constituídas da República.
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