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Reconvale Noticias | Anistia: Temer articula o "grande acordo" para enterrar Bolsonaro e alçar Tarcísio como anti-Lula

Nove anos após Jucá revelar "grande acordo com Supremo, com tudo" no golpe contra Dilma, Temer articula das catacumbas da burguesia pacto com centrão, mídia liberal e Faria Lima para iniciar a campanha de Tarcísio como candidato da Terceira Via anti-Lula

Ao lado de Jucá e Rogério Marinho, entre outros, MIchel Temer sanciona a Reforma Trabalhista após golpe contra Dilma.Créditos: Beto Barata/PR

Em março de 2016, o então ministro do Planejamento, Romero Jucá (MDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, tramaram um "grande acordo nacional"

"Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria", diz Jucá, em meio às pautas-bomba de Eduardo Cunha (MDB) no Congresso, que minavam o governo Dilma Rousseff (PT).
"É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional", responde Machado. "Com o Supremo, com tudo", emenda o então ministro, concordando que "a solução mais fácil era botar o Michel".
A conversa sobre o grande acordo foi tornada pública de forma tardia pela Folha de S.Paulo apenas em 23 de maio, 11 dias depois que Dilma havia sido afastada da Presidência, deixando em seu lugar Michel Temer (MDB), que assumiria definitivamente o posto no dia 31 de agosto do mesmo ano, quando o golpe parlamentar foi concretizado.

Passados 9 anos, em um hiato de tempo em que se abriu a Caixa de Pandora do fascismo brasileiro com a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, as mesmas forças que atuam no submundo da política se aglutinam em um novo "grande acordo nacional", "com o Supremo, com tudo", para, desta vez, alçar Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato da terceira via anti-Lula em 2026.

A mesma Folha de S.Paulo, divulgou nesta segunda-feira (28) que "os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, estão finalizando uma negociação com o Supremo Tribunal Federal (STF) para aprovar uma lei no parlamento que diminua as penas dos condenados do 8 de Janeiro e que, por outro lado, aumente as punições para lideranças de tentativas de golpe de Estado no Brasil".

Onze dias antes, a Fórum havia antecipado as negociações do "novo golpe" articulado por Michel Temer, que se elevou das catacumbas da burguesia paulista para aglutinar forças no Centrão, Faria Lima, Forças Armadas e mídia liberal e ressuscitar um velho projeto que alimenta a sanha de endinheirados do Brasil.
Enterrar o PL da Anistia e de Bolsonaro

Diferentemente do que quer fazer acreditar a mídia liberal, que é parte da nova trama golpista, o movimento não foca apenas na redução das penas dos golpistas, mas de um projeto eleitoral, com vistas a consolidar a terceira via anti-Lula para a disputa presidencial em 2026.

E, para isso, é preciso enterrar definitivamente a possibilidade de Jair Bolsonaro de retomar os direitos políticos acabando com a única pauta que lhe resta no Congresso Nacional: o PL da Anistia.

O desespero de Bolsonaro, que convocou de dentro da UTI do Hospital DF Star um novo ato pela "anistia", desta vez em Brasília no dia 7 de maio, se dá pela percepção de que ele foi, definitivamente, jogado às traças por não mais servir ao projeto neoliberal da burguesia - que só permitiu sua eleição em 2018 quando Paulo Guedes foi escalada para assumir o "super" Ministério da Economia.

Agora, esse mesmo movimento, que une setores do Centrão e da cúpula do Judiciário, mídia liberal e Faria Lima, flerta com Tarcísio, que despertou a paixão da burguesia ao mostrar sua virilidade com o martelo leiloeiro na privatização da Sabesp.
Tarcísio mostrando virilidade na sanha privatista (Governo de SP)

A negociata em torno do grande acordo foi anunciado com pompas por Michel Temer em evento na Universidade de Harvard, nos EUA, onde esteve na companhia de Gilmar Mendes, do banqueiro André Estevez - "herdeiro" de Guedes no BTG Pactual - e do empresário Jorge Paulo Lemann, que levou a Eletrobras ao apoiar o golpe em 2016.

Ao falar sobre a anistia aos condenador pelo quebra-quebra em 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente golpista afirmou que os ministros do Supremo estariam "sensibilizados" e que ele, pessoalmente, está "propondo uma mediação, um meio termo”.


"É possível fazer uma nova dosimetria. Punição houve, tinha de haver, mas também a pena deve ser de menor tamanho. É uma solução conciliatória. O que estou propondo é uma mediação, um meio termo”, afirmou, se colocando como principal articulador do acordo.

Ao voltar dos EUA, Temer concedeu uma longa entrevista ao jornal O Globo, da família Marinho, em que afirma que Alexandre de Moraes, a quem alçou ao STF, "é um ministro moderado, sensível e que sabe o que fazer. Não é um sujeito cheio de rancores".
Michel Temer e o então novo ministro do STF, Alexandre de Moraes (PR)

“O Congresso tem o direito de editar uma lei referente à anistia, não se pode negar isso, mas talvez para não criar nenhum mal-estar com o STF, o melhor seria que o próprio STF fizesse uma nova dosagem das penas”, emendou.

Para atuar na proposta de Lei que está sendo negociado junto ao Supremo, Alcolumbre escalou três senadores com "notório saber jurídico": Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Alessandro Vieira (MDB-SE) e - pasme! - Sergio Moro (União-PR).
Com o Supremo, com tudo

Das catacumbas da burguesia paulista, Temer já havia se reunido com os governadores Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ratinho Jr. (PSD), do Paraná; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; e Romeu Zema (Novo-MG), de Minas Gerais. Nos encontros, pregou sobre a importância de unificar a direita - sem Bolsonaro - para fazer o enfrentamento a Lula.

A proposta foi batizada por ele como "Movimento Brasil", na prática uma releitura do programa Uma Ponte para o Futuro, criado nas hostes do MDB em 2015, baseado em uma série de preceitos neoliberais para destruir projetos sociais e entregar as riquezas do país, como o petróleo, nas mãos dos financistas. Logo após o impeachment, Temer chegou a admitir que o golpe contra a presidenta se deu porque ela se recusou a adotar a cartilha.

No novo levante, Temer propôs aos governadores que, após o descarte de Bolsonaro, eles sigam com suas pré-candidaturas à Presidência e seria estipulado um prazo para definir quem encabeçará a chapa, baseado em pesquisas. Tarcísio é o favorito da Terceira Via e, em especial, da Faria Lima em razão da privataria selvagem imposta por ele em São Paulo.
Implosão no Congresso

Em outra frente, Temer escalou um amigo e aliado histórico como porta-voz para implodir o PL e a base bolsonarista que se articulam em torno do projeto da Anistia.

Representante lendário da burguesia paulista, o deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP) iniciou um motim dentro do PL. Após convencer 8 colegas da sigla a traírem Bolsonaro e votarem a favor do PL 769/2024, que cria 160 cargos no Supremo Tribunal Federal (STF) e foi apelidado de "PL do Moraes" pelo guru Silas Malafaia, Rodrigues se recusou a assinar a proposta de regime de urgência para o PL da Anistia.

"O texto atual do projeto de lei não distingue com clareza entre autores, intelectuais e executores de meros participantes, tratando de forma igual condutas gravemente distintas", leu em seu discurso no plenário, em linha com a proposta negociada por Temer e pelo Senado de impor penas rígidas aos articuladores de golpe e abrandar a punição às pessoas manipuladas por eles, colocando em xeque os planos de Bolsonaro.

Rodrigues ainda rebateu os ataques de Silas Malafaia, que o classificou como "traíra" e "amissíssimo de Moraes".

"Lamento que no momento em que o país clama por seriedade e equilíbrio, ele [Malafaia] opte por adotar um discurso que contribui para o acirramento dos ânimos", leu Rodrigues, novamente alinhado com o discurso de "pacificação" do amigo Temer.

Incumbido por Temer de implodir a base bolsonarista na Câmara, Rodrigues ainda contará com o apoio involuntário do governo, que pretende punir deputados de partidos do Centrão com assento em ministérios que votaram a favor da urgência da Anistia.

Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) classificou como "ótimo" o projeto de anistia sem Bolsonaro, negociado com o STF.

"Eu acho ótimo, desde que não se fale em anistia para mandantes e financiadores do crime. E não estou olhando para o Bolsonaro, que já está inelegível e, se depender de mim, pode ser candidato porque não me incomoda", declarou o senador, que negou a participação do governo.

Já o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias afirmou que é contra a anistia, mas que poderia existir uma "saída negociada" com relação aos presos do 8 de janeiro.

"Para Bolsonaro, nada. Para os generais que estiveram à frente, nada. Mas para quem cometeu crime menor, não tem problema o Supremo fazer isso", declarou.

Com pressão dos dois lados e colocada por Hugo Motta (Republicanos-PB) no final da fila das mais de mil propostas que se encontram em regime de urgência, a bandeira bolsonarista foi definitivamente para a gaveta.
O novo smoking do velho projeto burguês

Na prática, Temer tenta reeditar, juntamente com o fiel escudeiro Gilberto Kassab, o projeto da terceira via, que se inviabilizou em 2022 devido à polarização política entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula, que aglutinou boa parte dessa via na Frente Ampla.

O plano de Michel Temer já teria a adesão de uma parcela dos principais partidos do Centrão: MDB, PSD, Republicanos e União Brasil, além de uma parte do Novo, que virá a reboque de Zema e da pauta ultraliberal.

Além disso, conta com a simpatia da Faria Lima, que tem em Tarcísio uma das principais apostas para aprofundar as privatizações e a agenda neoliberal, onde orbita também a mídia liberal.

Temer ainda aglutina uma parcela considerável da burguesia paulista e conta com apoio de militares na cúpula das Forças Armadas, onde mantém forte interlocução a partir do general Sérgio Etchegoyen, que articulou com Eduardo Villas Bôas o apoio da caserna ao golpe de 2016.

Embora muitos acreditem que o ex-presidente habite as trevas após deixar a linha de frente da política, Michel Temer segue atuando na realpolitik em torno dos interesses da burguesia brasileira e dos ditames transnacionais do sistema financeiro que cultivam uma sanha sanguinária para retomar o poder em 2026 e sugar, até a última gota, as riquezas do Brasil.

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