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Consumo abusivo de álcool cresceu quase 40% entre as mulheres



Há um aumento significativo de mulheres que sofrem com o chamado binge drinking. (Foto: Alex Silva/A2 Estúdio)
A nova edição do Vigitel, uma pesquisa do Ministério da Saúde feita anualmente por telefone sobre os hábitos e a saúde da população, revelou que o consumo abusivo de álcool entre as mulheres aumentou de 7,7% em 2006 para 11% em 2018. Isso representa um acréscimo de quase 40%.
Verdade que 26% dos homens reportaram uma ingestão excessiva de bebidas alcóolicas em 2018, o que é significativamente maior. Porém, em 2006, essa taxa era de 24,8%. Ou seja, ela permaneceu quase igual ao longo do período – o que também preocupa por se tratar de um número alto.
O Vigitel enquadrou as mulheres que participaram do estudo como “consumidoras abusivas de álcool” se elas respondessem que tomaram quatro doses em uma mesma ocasião nos últimos 30 dias. Para os voluntários do sexo masculino, o limite era de cinco doses.
O comportamento de exagerar em uma noite também é chamado de beber pesado episódico, ou binge drinking. É quando a pessoa não necessariamente vai para o bar todos os dias, mas muitas vezes passa da conta quando o faz.
“Hoje, o uso nocivo de álcool é o grande problema de saúde e segurança pública ligado a uma droga no Brasil, incluindo as ilícitas”, comenta Guilherme Messas, psiquiatra da Santa Casa de Misericórdia em São Paulo e coordenador do Comitê pela Regulação do Álcool (CRA).
As bebedeiras ocasionais preocupam, pois elevam o risco de dependência química, que hoje atinge até 10% da população adulta, e de uma série de doenças crônicas e tipos de câncer. Isso sem falar nos efeitos imediatos, como a maior exposição a comportamentos de risco – sexo desprotegido e acidentes de trânsito, para citar dois exemplos.
Mulheres estão bebendo mais
“Podemos dizer que elas são as grandes vítimas da negligência brasileira com o uso de substâncias”, declara Messas. Fatores como a emancipação feminina, a maior presença no mercado de trabalho e o poder de compra influenciam nessa história, acredite se quiser.
“Isso tornou a mulher um novo alvo mercadológico para propagandas, em um país onde a legislação sobre o consumo de álcool está regredindo”, opina Messas.
Não é à toa que os números entre elas sobem anualmente. “Nesse ritmo, em algum momento elas podem se igualar aos homens”, especula Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Cisa (Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool). A entidade também divulga anualmente dados de consumo de álcool e, em 2019, encontrou tendência de alta entre o público feminino, particularmente nas mais jovens.
No estudo do Cisa, quando questionadas sobre embriaguez, 26,9% das adolescentes entre 13 e 17 anos relataram um episódio do tipo pelo menos uma vez na vida. O índice é quase igual ao dos meninos (27,5%).
E como reduzir esse consumo? “Não existe uma abordagem preventiva especificamente para elas, mas o controle deve ser mais rigoroso e a orientação sobre os perigos do exagero, mais incisiva”, aponta Guerra.
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Em 2006, primeiro ano do Vigitel, 16% dos brasileiros em geral afirmaram ter abusado das bebidas nos 30 dias anteriores à pesquisa. Em 2018, foram 17,9%. O aumento é discreto e até menor do que em 2017, quando chegou a 19%. Mas mostra que não estamos conseguindo progredir no controle do álcool.
Além dos dados do Vigitel, que pega apenas um dos aspectos do consumo, vale lembrar que as estimativas atuais dão conta de que metade da população maior de 15 anos bebe em diferentes frequências. “Qualquer substância consumida nessa escala deve ser objetivo central de preocupação, mas o álcool segue negligenciado”, aponta Maurício Fiore, antropólogo e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Para os especialistas entrevistados, a abordagem correta não é demonizar ou abolir a bebida. Ela inclusive tem um papel relevante em muitas culturas. “Devemos nos afastar do paradigma proibicionista, que considera qualquer consumo nefasto, mas reconhecer que o álcool é excessivamente normalizado e banalizado, o que aumenta muitos o risco de danos”, argumenta Fiore.
Embora cada indivíduo tenha sua responsabilidade, é inegável que grandes avanços seriam conquistados com boas políticas públicas. “Podemos falar de restrições drásticas em publicidade, aumento do preço via mecanismos tributários e monitoramento das restrições impostas, especialmente quanto à venda para adolescentes”, encerra Fiore. Fonte :saude.abril.com.br

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