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Como preservar, proteger e recuperar nascentes



Definidas na lei como ‘afloramentos naturais do lençol freático que apresentam perenidade e dão início a um curso d’água’, as nascentes são de vital importância para qualquer propriedade. No meio rural, abastecem açudes e represas, saciam a sede dos animais e podem dar suporte à irrigação das lavouras. Abaixo, saiba que medidas adotar para preservá-las, protegê-las e também recuperá-las, mantendo sempre a qualidade da água:
Preservação
De acordo com Renata Machado Mongin, do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram), não dá para falar de preservação sem falar de vegetação. A razão para isso é o fato de a vegetação funcionar como uma barreira natural, que reduz o aporte de sedimentos, insumos e defensivos em direção ao corpo d’água; além de contribuir para seu fluxo contínuo e emergência de águas subterrâneas. Dito isso, vale lembrar que a vegetação deve ser de espécies nativas: “Às vezes o produtor acha que resolve plantar só árvores frutíferas, mas não é bem assim”, diz a especialista.
De acordo com Renata, o tipo de formação vegetal mais adequado para a preservação de cada nascente pode variar com as características do solo ou nível de absorção de água pela planta. Ela também alerta que, de modo geral, a compra de mudas, adubação e manutenção da vegetação ficam a cargo dos produtores. “Mas cada vez mais há um incentivo para a preservação e vemos surgir programas do governo e de ONGs que financiam essas ações”, pontua.
No caso de quem tem criação na propriedade, a área de preservação permanente deve ainda ser cercada. A especialista explica por que: “Para evitar o pisoteio, evitar que os poros por onde a água passa se fechem e que, sem infiltração, ela deixe de fluir”. Sobre o raio considerado área de preservação permanente (APP) no caso de nascentes, ela lembra que a faixa é de pelo menos 50 metros.
Proteção. No sentido de reforçar as medidas de preservação, a dica vem da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que desenvolveu um modelo de proteção conhecido como Caxambu. Abaixo, você assiste ao vídeo produzido pela instituição, que ensina como montar e instalar a proteção na fazenda:

Recuperação
Por fim, tema de reportagem da Revista Mundo do Leite, publicada em abril de 2015, a recuperação de nascentes é outra ferramenta disponível para o produtor que busca o equilíbrio entre conservação e aproveitamento dos recursos naturais.
Em um passo a passo, você acompanha a técnica – aprimorada pelo agricultor, e hoje técnico da Cooperativa de Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), no Paraná, Pedro Josino Diesel – que já recuperou mais de 8 mil nascentes. Criada pela Emater, ela se transformou no projeto Água Viva, desenvolvido pela Coopavel em parceria com a Syngenta. Veja o passo a passo em texto do repórter Renato Villela:
Antes de mais nada, vale lembrar que é obrigatório fazer o procedimento no auge da estação seca e que se deve desassorear a nascente.
– Após a delimitação da área, definida pelos “pontos de descarga” da água que aflora, inicia-se o trabalho de limpeza da superfície com a retirada da terra e matéria orgânica.
– Na sequência, com o auxílio de ferramentas como enxadão e pá, remove-se a lama até encontrar o chão firme.
– Com as mãos, desobstruem-se os olhos d’água, que normalmente brotam de orifícios argilosos. Ao mesmo tempo, abre-se uma vala, ligando a nascente até o destino do curso d’água. Prática antiga e bastante difundida, o represamento da água das nascentes por meio de paredes de alvenaria é desaconselhado, assim como coberturas com tábuas de madeira ou telhas do tipo Brasilit.

– Finalizado o trabalho de limpeza e desobstrução dos olhos d’água, parte-se para a construção de uma pequena barragem que será responsável por represar o volume a ser conduzido por um sistema de canos de PVC, por onde se dará a vazão da água.
– A barragem, posicionada na parte frontal da nascente, é construída com uma massa feita de solo-cimento, mistura de terra de barranco com cimento. A proporção entre solo e cimento depende da textura da terra. Se muito arenosa, usam-se três porções de terra para uma de cimento. Com um solo mais argiloso, pode-se fazer a mistura na proporção de cinco para um. O uso de areia é totalmente desaconselhado.
– À medida que a barragem é erguida, vão sendo colocados os canos de PVC, que possuem diferentes diâmetros, de acordo com a sua função:
Cano A) O primeiro dos canos é de 4 polegadas e fica posicionado na base da barragem, rente ao leito da nascente. O cano permanece fechado com um tampão, removido toda vez que se deseja esvaziar por completo a mina d’água. Trata-se do cano de limpeza da nascente. Uma camada de solo-cimento é depositada sobre ele, percorrendo toda a extensão da barragem.
Cano B) Logo acima é colocado um cano de 3/4 de polegada, por onde se dará a vazão da água que, levada por uma mangueira, abastecerá o reservatório.
Canos C e D) A “sobra” de água, ou seja, o volume que ultrapassar a capacidade de vazão do cano de 3/4 de polegada sairá por dois canos de 1,5 polegada, posicionados 15 cm acima. São os canos de ‘excesso’. A água que sair por ele cai na vala aberta e segue o percurso até o seu destino. A recomendação é que a altura entre os canos e o fundo da nascente não ultrapasse os 30 cm. O segredo é não formar depósito, por isso o sistema de canos tem que ser baixo. A água brota da nascente e tem que circular.
Cano E) Um último cano, novamente de 3/4 de polegada, é colocado na posição diagonal em relação à base da barragem. É o canal por onde será despejado um produto para limpeza e desinfecção da nascente, tarefa que deve ser executada de seis em seis meses após a conclusão da obra.

– No momento da limpeza, o procedimento é colocar o desinfetante, deixar agir por alguns minutos e depois retirar o tampão do cano de limpeza até esvaziar toda a nascente. Depois, repetir a operação por mais duas vezes para garantir uma boa desinfecção.

– A etapa seguinte é forrar o leito da nascente com pedras, que terão a função de melhorar a filtragem da água. O mais indicado são as pedras “ferro”, cuja durabilidade é maior. O produtor pode usar as que tiver na propriedade, mas deve evitar pedras “macias”, que se esfarelam, pois, com o passar do tempo, elas tendem a se dissolver e entupir os canos de saída d’água.

– A penúltima etapa é cobrir as pedras com uma lona plástica, semelhante às utilizadas para vedação de silos. O plástico deve ser resistente, preferencialmente de 200 micras de espessura, para evitar que se rasgue com o desgaste. O objetivo da lona é proteger a nascente, evitando que haja aterramento provocado por enxurradas contendo sedimentos de terra ou contaminação com agrotóxicos.

– O último procedimento é cobrir a lona com terra. Se for uma área de pastagem, é importante cercar para evitar a presença do gado, que pode pisar e quebrar o sistema de canos de PVC. Árvores devem ser plantadas a uma distância mínima de 6 a 8 metros de raio da nascente, o que evita que raízes atinjam e furem a lona.

– Por fim, recomenda-se fazer análise da água para atestar sua qualidade.

Além de evitar o excesso de perfurações e eventuais danos às nascentes ao redor, a medida alivia o bolso, já que a perfuração de um poço pode custar até R$ 30.000.

Fonte: Portal DBO

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