Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia
O governo Bolsonaro está a um passo da "glória" de jogar o Brasil numa guerra. A invasão da Venezuela, ação política que engatinha na Casa Branca incentivada por um presidente literalmente topetudo, exerce nesse nicho de brasileiros atualmente deslumbrados com o poder um fascínio invulgar. A ânsia dos bolsonautas em se aninhar no ninho da águia americana é tanta que certos setores do governo não conseguem disfarçar o frenesi.
Nessa patacoada, aparentemente sem o apoio dos militares e do vice-presidente Hamilton Mourão, a trupe é encabeçada pelo filho do meio do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, espécie de "assessor master" do governo para assuntos de política externa, e por auxiliares da lavra do chanceler Ernesto Araújo. Ambos devidamente orientados pelo "mago" Steve Bannon, teórico da extrema-direita e homem forte da eleição de Donald Trump em tudo o que existiu de questionável e eticamente indefensável. Se pudessem, esses "guerreiros" já andavam por aí de armadura, escudo e espada. Noção passa longe desse incrível exército de Brancaleone de Norcia.
Fato é que o Brasil não tem nada a ganhar com uma intervenção na Venezuela pelos Estados Unidos. Este, sim. Além da guerra ideológica que dissemina nas Américas e no resto do mundo, o país que se jacta de dono no continente enxerga no nosso vizinho sul-americano uma sentinela estratégica em razão das reservas de petróleo. Olho grande de uma cobiça que vai render frutos para os EUA e mais ninguém. Como em várias outras guerras nas quais os americanos entraram com o apetite de uma águia e os aliados com a fome de um rato.
A Venezuela exerce, nessa história, o seu direito legítimo de resistir e deveria, para isto, contar com o apoio dos países vizinhos. As consequências serão danosas para todos, não apenas para os venezuelanos. Por mais restrições que se tenha ao governo de Maduro, não dá para tapar os olhos e deixar de enxergar o que está por trás dessa crise toda. As gigantescas e bilionárias reservas de petróleo estão no centro da ambição norte-americana. Sempre estiveram. É como se ali houvesse um Oriente Médio, só que pertinho de Miami.
Hoje, a Venezuela detém 17,9% do petróleo do mundo, na frente de potências como a Arábia Saudita (15,7%), o Canadá (10%) e o Irã (9,3%). Reserva que equivale, segundo a Agência Internacional de Energia, a 303,2 bilhões de barris. Ou três bilhões de barris por dia. É por aí, minha senhora! Não é outro o motivo, meu senhor!
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Com presidentes democratas, como foi o caso de Barack Obama, a pressão em cima de países produtores de petróleo existia. Abertas, as asas da águia são grandes e abrangentes. Mas, a coisa se dava noutro patamar, em que pesava também – e praticamente isso – a diplomacia. Com celerados do quilate de Donald Trump, para que perder tempo, não é mesmo? O caso é de guerra, logo. Pronto. Sem mais delongas.
O Brasil de Bolsonaro está alinhado cega e servilmente com Trump. Faz tudo o que o Seu Mestre mandar. A ponto de estender para cá a aliança histórica dos Estados Unidos com Israel, nosso novo "país-irmão". Nas escaramuças do governo brasileiro à Venezuela pretextos como ideologia, comunismo, socialismo, bolivarianismo, tudo acaba sendo fachada. A questão é, antes de tudo, de alinhamento e espaço estratégico que o Brasil, assim como a Colômbia, tem e coloca à disposição dos interesses do patrão.
Difícil ver outro tipo de razão em um País que tem no cargo de ministro das Relações Exteriores alguém de credibilidade e experiência em política externa tão discutíveis como é o caso do chanceler Araújo. Um "quadro", ainda por cima, recrutado e indicado pelo "filósofo" Olavo de Carvalho, guru de uma legião de malucos que chegou ao poder, mas não tem a menor ideia do que fazer com ele.
Infelizmente, o pior está bem perto. Caminhões americanos com mantimentos e medicamentos destinados a comunidades da Venezuela estão parados na fronteira com a Colômbia e impedidos de passar. Este tipo de "ajuda humanitária" sempre é utilizado como pretexto para intervenções e incursões bélicas. O enredo é o de sempre: o invasor finge ser "bonzinho" e é barrado por quem não cai mais nessa; abre a boca, os tolos acreditam na versão inventada e dão aval político para o invasor contra o intransigente e cruel invadido.
Para agredir a Venezuela e fazer com que o resto da América Latina se volte de vez contra o "bolivarianismo perverso e ateu", os Estados Unidos se utilizam de duas muletas. Uma é a Colômbia. A outra muleta, claro, é o Brasil, país onde o governo deflagra uma guerra interna contra as ideologias com o único intuito de adotar a sua. Pior, a ideologia alinhada internacionalmente com o que de pior existe, hoje, em termos de arrogância, racismo, ignorância, desprezo pelas pessoas e apreço pelo lucro e pela dominação.
Como se não houvesse, aqui dentro, tantas guerras a se travar, a começar por uma sem fim, no Rio de Janeiro, território dominado pelas milícias. Mas, isto é outra história. Embora com personagens e sobrenomes comuns.
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