Informação foi confirmada pelo governo de Minas Gerais, que acrescentou que 35 pessoas foram identificadas; há ainda 292 desaparecidos, 192 resgatados, 382 localizados e 135 desabrigados
O número de mortos após o rompimento da barragem da Vale na Mina Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, aumentou para 65. A informação foi confirmada pelo governo de Minas Gerais, que acrescentou que 35 pessoas foram identificada. Há ainda 292 desaparecidos, 192 resgatados, 382 localizados e 135 desabrigados. Leia mais na reportagem da Reuters:
Desespero se transforma em indignação por rompimento de barragem da Vale
Por Gram Slattery
BRUMADINHO, Minas Gerais (Reuters) - A dor pelas centenas de pessoas desaparecidas devido ao rompimento da barragem de mineração da Vale em Brumadinho (MG) se transformou em um sentimento de indignação para familiares das vítimas e políticos, que acusam a empresa e as autoridades públicas de não terem aprendido nada com a tragédia de Mariana (MG).
Nesta segunda-feira o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais confirmou 65 mortes no desastre da última sexta-feira, após uma enorme avalanche de lama de rejeitos atingir comunidades, a área administrativa da própria Vale e a cidade de Brumadinho. Quase 300 pessoas estão desaparecidas e as autoridades afirmam que é pequena a chance de serem encontradas com vida.
As ações da Vale despencavam 23 por cento no início da tarde. Na sexta, a B3, onde os papéis são negociados, estava fechada por conta do feriado de aniversário de São Paulo.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que a companhia deve ser fortemente responsabilizada inclusive criminalmente. Os executivos da Vale também devem ser pessoalmente responsabilizados, disse ela.
O diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse no domingo que as instalações foram construídas de acordo com os padrões de segurança, e que equipamentos mostraram que a barragem estava estável duas semanas antes.
"Eu não sou técnico em mineração, eu segui a orientação dos técnicos e esse negócio deu no que deu, não funcionou", disse o executivo. "Estão 100 por cento dentro de todas as normas, e não houve solução."
O desastre na mina do Córrego do Feijão ocorreu pouco mais de três anos depois que uma barragem desabou em uma mina em Mariana operada pela Samarco, uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton, matando 19 pessoas e atingindo o importante rio Doce, no maior desastre ambiental da história do país.
Apesar de o desastre da Samarco de 2015 ter despejado cerca de cinco vezes mais resíduos de mineração, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho na sexta-feira deixou muito mais mortos por ter soterrado um refeitório lotado da Vale e uma área povoada.
"O refeitório estava em uma área de risco", disse Renato Simão de Oliveira, de 32 anos, enquanto procurava por seu irmão gêmeo, funcionário da Vale, em uma estação de atendimento de emergência. "Só para economizar dinheiro, mesmo que isso significasse perder o cara... Esses empresários só pensam em si mesmos."
Nesta segunda-feira, equipes de resgate retomaram os trabalhos de busca focadas em retirar corpos que estariam dentro de um ônibus encontrado no mar de lama provocado pelo rompimento da barragem, o que deve aumentar o número de 60 mortes confirmadas até o momento.
Ademir Rogério, um morador de longa data da região, chorava enquanto vasculhava a lama do local onde um dia ficaram as instalações da Vale.
"O mundo acabou para nós", disse ele. "A Vale é a maior mineradora do mundo. Se isso pode acontecer aqui, imagina se fosse uma mineradora menor."
Nestor José de Mury disse que perdeu seu sobrinho e colegas de trabalho na lama.
"Nunca vi nada parecido, matou todo mundo", disse.
DEBATE SOBRE SEGURANÇA
O conselho da Vale, que no último ano elevou o pagamento de dividendos, suspendeu todos os pagamentos aos acionistas e os bônus aos executivos, após o desastre colocar sua estratégia corporativa sob escrutínio.
Muitos se perguntam se o Estado de Minas Gerais, batizado pela atividade de mineração que talhou sua paisagem há séculos, deveria ter padrões de segurança mais elevados.
"Há formas seguras de mineração", disse o deputado João Vítor Xavier (PSDB), presidente da Comissão de Minas e Energia na Assembleia Estadual. "É que diminui as margens de lucro, então eles preferem fazer as coisas da maneira mais barata — e colocar vidas em risco."
A reação ao desastre pode ameaçar os planos do presidente Jair Bolsonaro de relaxar restrições sobre o setor de mineração, incluindo propostas para abrir reservas indígenas e grandes áreas da Amazônia para a mineração.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), disse que a chegada de equipes especializadas de Israel com equipamentos de satélite ajudará a localizar desaparecidos.
Reportagem adicional de Tatiana Bautzer
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