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Por que tanta pressa para legalizar cassinos?



Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho -

Com a enxurrada de gravações clandestinas e delações premiadas dominando o noticiário político nestas duas primeiras semanas do governo interino de Michel Temer, corre celeremente por fora o movimento pela reabertura dos cassinos e legalização dos jogos de azar, como se esta fosse a solução para os grandes problemas nacionais. Quais seriam os motivos de tanta pressa?

Neste cada vez mais estranho e assustador Brasil de Brasília, nada acontece por acaso. Como temos eleições municipais em outubro, com os tradicionais financiamentos de campanhas asfixiados pelo STF, que proibiu as doações empresariais, e pela Operação Lava Jato, detonando os esquemas público-privados de "caixa dois" e lavagem de dinheiro, a volta da jogatina legalizada pode ser a salvação da lavoura para partidos e candidatos.

Parece que seus defensores estavam apenas aguardando a troca da guarda para avançar no pudim. Logo nos primeiros dias do novo governo, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que ocupou o mesmo cargo na gestão anterior, voltou a defender abertamente  a legalização dos jogos de azar no Brasil.

"Temos de ter coragem para enfrentar de forma séria, profissional e republicana a legalização dos jogos. Atualmente, as pessoas jogam de forma clandestina, sem gerar qualquer arrecadação para o país", afirmou o ministro no último dia 18, ao discursar na abertura de uma feira de turismo em Porto de Galinhas, Pernambuco. Alves ressalvou que essa é sua opinião pessoal e pretende levá-la para ser discutida por toda a equipe de governo.

Não está sozinho. Na mesma linha, o senador Ciro Nogueira (PP-Piauí), autor do projeto de lei que tramita no Senado para regulamentar a exploração de jogos de azar, que fizeram a fama de Carlinhos Cachoeira (por onde andará?), escreveu artigo sob o título "Uma aposta no Brasil", publicado pela Folha na edição de sábado:

"O projeto de legalização de jogos de azar, em discussão no Congresso Nacional, é uma aposta que vale a pena para o país. Essa questão precisa ser debatida sem preconceitos, de maneira profunda e pensado exclusivo (sic) no interesse nacional. Devemos evitar que o atual momento de eletricidade  no ambiente político contamine uma discussão que o Brasil, mais cedo ou mais tarde, precisará enfrentar". Por qual razão?

Sabemos bem agora, pelas gravações feitas pelo delator Sérgio Machado com os grandes caciques do PMDB, quais são as razões republicanas em defesa do interesse nacional que os move. E não por acaso, também, o ministro de Turismo dos governos Dilma-Temer aparece como um dos principais alvos da Operação Lava Lato, e o PP de Ciro Nogueira é o partido com maior número de parlamentares envolvidos nas denúncias.

Na mesma edição da Folha que publicou o artigo de Henrique Alves, o contraponto foi dado por José Augusto Simões Vagos, procurador-chefe da Procuradoria Geral da República _ 2ª Região, sob o título "Cartas marcadas":

"As coisas mudaram nos últimos 14 anos. A atividade clandestina foi asfixiada pelas operações policiais em quase todos os Estados da Federação. Como as apreensões dão prejuízo _ é caro investir em caça-níqueis _, o melhor negócio para o contraventor passou a ser brigar pela legalidade. O lobby do grupo é pesado".

Se fossem bons para o país, não seriam chamados de jogos de azar, mas de sorte, e Las Vegas seria a cidade mais rica do mundo. A sorte, geralmente, é da banca e dos políticos que ela financia, e o azar é nosso. Para fazer lavagem de dinheiro e caixa dois, é a sopa no mel.

Antes de encerrar este assunto sobre gravações e jogatinas legalizadas, que têm tudo a ver, abro espaço para reproduzir duas cartas de leitores publicadas pelos jornalões paulistas, resumindo o que pensa sobre tudo isso o chamado cidadão contribuinte.

Antonio do Vale, de São Paulo, na Folha: "Como sempre acontece, o argumento favorável é só a possibilidade de arrecadação financeira. A moralidade, a criminalidade, a infelicidade potencial das famílias, o vício, a prostituição, não são nem sequer levados em consideração".

Natalino Ferraz Martins, de São Paulo, no Estadão: "Horas de gravações e não se encontra, nas conversas de importantes próceres da Nação, nenhuma menção a qualquer ação para ajudar o Brasil nem sombra de alguma preocupação com a população brasileira. Apenas tramas e tramoias, dignas de gângsteres. Não surpreende, mas deixa um gosto triste e amargo de desesperança".

E vamos que vamos.                        Fonte : alanterna.com

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