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Relacionamento: por que brigar pode ser bom?



Meninas, a depender do dia em que você estiver lendo esta linha, motivo de briga é o que não faltará. O tema de hoje, portanto, é esse. E surgiu por conta desta carta aqui:
“João, eu quase nunca brigo com meu marido. Ele é desses que evita uma discussão a qualquer custo. E eu, como me magoo fácil, também sou de evitar. Acontece que… não sei. A cada dia que passa eu sinto o nosso relacionamento mais sem sal.

Conversando sobre um outro assunto com uma amiga, ela acabou revelando que o casamento dela é quase oposto do meu. Ela me dizia sobre o arranca rabo que eles tiveram por conta da situação política do país. Ele quer impeachment, ela é contra. Essa minha amiga descreveu os níveis de discussão que eles têm e tiveram a respeito. E eu fiquei chocada. Com meu marido jamais cheguei a 1% das coisas e do tom que eles usam um contra outro. Fui puxando o assunto, e descobri que eles brigam bastante, têm DRs imensas, mas… Mas são felizes.
Eu sei porque isso fica claro ao vivo, pra todo mundo que os conhece, e porque ela me disse, com sinceridade.

E eu aqui na minha paz nesta tristeza.
Isso me deixa muito inquieta, João. Será que a gente deveria brigar mais? O que quer dizer brigar ou não brigar num relacionamento?”
O AMOR ENQUANTO ONU E OTAN
Ah, meninas. O que dizer? Primeiro dizer uma óbvia premissa: não sei qual é a fórmula, qual é o certo. No amor e no mundo cabe tudo. Desde quem quase não briga e é feliz (desconfio desses porque não os conheço) até os que brigam por tudo e são infelizes (esses eu conheço aos montes).
Portanto, não há fórmula.
Mas há sintomas.
Eu diria que brigar é bom. Desde que a briga não seja muita, por qualquer coisa, e que ela seja superada com a felicidade e a saudade de quem relembrou por que é bom estar com o outro.

Casais que voltam de uma briga estranhos, que buscam nas mesmas questões briga eternas, que tornam qualquer fiapo de coisa um motivo de gelos que não passam, esses casais não são casais: são duas sacolas que engordam as neuroses do parceiro.
Dito isso, repito: amor é guerra. Amor e paz é o título de um romance que você e eu ainda não lemos. Amor não é paz porque amor exige um estado de coração palpitante. Amor perverte e convoca nossa razão pra um passeio na escuridão do que levamos por dentro. Amor, sem cuidado, é posse. E amor que é posse não é amor.
AMOR VERSUS PAZ
Eu diria, meninas, que um pouquinho de briga é a ferramenta linda que o universo nos deu pra soltar um pouco da pressão que é encontrar a tampa da nossa panela.
Conviver é difícil. Conviver é tentar andar sobre um barbante roído, equilibrando no colo a multidão de personalidades e problemas e angústias e desejos que levamos dentro da gente, com as personalidades, problemas, angústias e desejos que nosso parceiro carrega.

É sempre um passeio crepuscular à beira dum precipício maravilhoso e mortal. Um passo pra trás, uma viagem inesquecível. Um passo pra frente, o oblívio.
A leitora acima sabe que as coisas vão mal na aparente tranquilidade do mar que é o relacionamento pacato que mantém. Mar de lama. Há profundidades que ela e ele não querem tocar. E isso mata o amor. Eu arrisco e confirmo: a leitora acima não ama mais.
O que – por favor, meninas – não quer dizer que o caminho inverso é a chave da felicidade eterna. Porque não é. E porque ela, a felicidade eterna, não existe.
O amor perfeito é horrível às vezes. E maravilhoso raramente. Eis o segredo das coisas: aceitar o sobe e desce que é viver.
UM TRUQUE
No fundo, garotas, o que vale é querer o outro. Gostar do outro. Ter a vontade de escutar o outro. Fazer das longas DRs intervalos entre as boas viagens, entre os momentos de marasmo, entre o sexo sem graça de muitos dias à trepada selvagem e bêbada que vez ou outra rola entre vocês.

O bom amor desconta às vezes – porque é inevitável descontar – sua frustração no outro. Mas o bom amor é também aquele que sabe, depois que a batata esfria, reconhecer o que fez de errado e de certo e pedir desculpas pelo errado e sustentar o que é certo.
Não existe casal perfeito.
O grande amor, por fim, é aquele que aprende e desaprende o tempo todo. Aprende, por exemplo, dois maravilhosos macetes do casal feliz:
1- Quando você sabe que está irritado demais pra debater, peça ao outro um minuto e explique ao outro que esse minuto é porque você está irritado demais pra ser justo, pra não dizer aquilo que serve apenas pra ferir;
2- Quando é o outro que está irritado, você jamais praticará o item 1, porque impedir a explosão do outro é fazer a explosão de um estalinho atomizar o amor.

Moças, percebam: aprendemos na paz, mas aprendemos muito mais na guerra. Permitir ao outro uma ou outra explosão é também entender um bocado de como o outro se sente em relação a você. E se permitir explodir é a mesmíssima coisa.
O ponto é, como sempre, aceitar que amar é amarrar duas solidões. Assim, o segredo do amor é, sozinha, diante do espelho, ter a conversa mais franca que há: vale a pena? O que tenho: saudades dele ou medo de perder? Descontada a infelicidade, sou feliz?
Você é feliz?      FONTE : colunas.revistamarieclaire.globo.com

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