Isso não significa, entretanto, que Michel Temer, o vice decorativo, passará a ser presidente da República.
A ascensão automática do peemedebista, diante do fim do (des)governo de Dilma, não resolve a crise política e ética pela qual passa o Brasil neste momento.
Pelo contrário, pode acirrar os ânimos -- uma vez que existe uma guerra declarada entre PT e PMDB, desde o desembarque deste do governo Dilma.
Se o impedimento passar no Senado, no dia 11 de maio, a presidente será afastada, e Temer assume interinamente.
Nos 180 dias de ausência, Dilma, Lula & cia planejarão sua ofensiva para que Temer nem esquente o assento presidencial no Palácio do Planalto.
O HuffPost Brasil elenca 10 motivos pelos quais Temer não chegará a ser presidente de fato:
1. O PMDB está no coração da Lava Jato
Os brasileiros que foram às ruas contra o governo condenam Dilma, Lula e o PT, mas reivindicam sobretudo o combate à corrupção. O partido de Michel Temer, entretanto, está no centro da Operação Lava Jato, que investiga desvios bilionários da Petrobras. PT e os ex-aliados PMDB e PP são as legendas mais implicadas no chamado petrolão. Quando se trata de ética na política, trocar seis por meia dúzia não dá, né?
2. A crise política atual não é só do PT, mas também do PMDB
Dilma realmente não foi hábil nas articulações políticas nem conseguiu costurar uma base mínima em seu segundo mandato. Mas o governo eleito era formado por PT e PMDB. Apesar dos diversos ministérios assegurados ao aliado, a sigla de Temer cobrava cada vez mais espaço no Executivo. Na Câmara, o presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez o possível para tumultuar a gestão da petista. Seis meses depois da posse, Cunha já havia rompido com Dilma, dificultando o andamento dos projetos do governo. À medida que a parceria PT e PMDB se fragilizava, o toma-lá-dá-cá só foi piorando...
3. Eduardo Cunha é amigo de Michel Temer
Rejeitado por três em cada quatro brasileiros, Cunha é antigo aliado do vice-presidente. Com tanta gente nas ruas repudiando a corrupção, pega muito mal a associação de um novo presidente com um político réu no Supremo Tribunal Federal. Cunha é acusado pelo Ministério Público Federal de receber ilegalmente propina de US$ 5 milhões do delator Julio Camargo, vindos de um contrato sem licitação da Petrobras; o STF aceitou a denúncia de forma unânime.
4. Existe pedido de impeachment de Temer na Câmara, endossado por ministro do STF
Como Dilma, Michel Temer também cometeu crime de responsabilidade, sustenta o advogado Mariel Marley Marra. Foi ele que entrou com pedido de impeachment do vice-presidente, alegando que este também assinou decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso. No início deste mês, o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello referendou o processo e determinou que Cunha instale uma comissão para analisar o caso. Os líderes dos partidos devem agora indicar integrantes para essa comissão. Senadores chegaram a pressionar por rito conjunto dos impedimentos de Dilma e Temer.
5. Quase 60% dos brasileiros querem impeachment de Temer
A maioria dos brasileiros rejeita Dilma e Temer. De acordo com última pesquisa Datafolha, 61% dos brasileiros são favoráveis ao afastamento da presidente e 58% querem a saída do vice. O percentual dos defensores da renúncia de Dilma e Temer é o mesmo: 60%. Fica claro que o vice não usufrui de expressivo apoio popular...
6. Chapa de Dilma e Temer está sob ameaça no TSE
Na semana passada, o processo de cassação da chapa Dilma e Temer avançou na Justiça Eleitoral. A ação do PSDB no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acusa abuso de poder econômico e político nas eleições de 2014, com uso de dinheiro vindo de corrupção da Petrobras. Ciente do risco de a chapa ser impugnada, Temer já pediu ao TSE para desvincular suas contas das de Dilma.
7. Modelo de coalizão não funciona mais
A ruptura de PMDB, PP e PSD com PT escancara a crise do modelo do presidencialismo de coalizão. Foi a coligação vitaminada por tantos partidos que garantiu mais de 11 minutos de TV para Dilma na campanha de 2014. O descompasso total entre a propaganda de dois anos atrás e o que o Executivo fez abala a legitimidade do processo eleitoral e, portanto, dos outrora vitoriosos Dilma e Temer.
8. Nem Dilma Nem Temer: Cresce movimento por novas eleições
Pesquisa do Ibope divulgada nesta segunda-feira (25) mostra que apenas 8% dos brasileiros consideram o impeachment de Dilma e substituição por Temer como "a melhor forma de superar a crise política". Por outro lado, 62% dos entrevistados acreditam que a convocação de novas eleições é a melhor saída para o caos político. Essa bandeira já foi erguida por uma frente organizada de senadores, pelas ex-presidenciáveis Marina Silva (e sua Rede Sustentabilidade) e Luciana Genro(PSol-RS), e estaria sendo ventilada dentro do próprio governo.
9. #VaiTerLuta: PT e movimentos sociais não vão dar trégua
Um eventual governo Temer será alvo constante de artilharia do PT e dos movimentos sociais que estiveram alinhados à Dilma até este momento. Petistas prometem uma oposição de peso a um governante no qual não verão qualquer legitimidade por ter assumido via "golpe". O MST já propôs uma greve geral se o impeachment passar pelo Congresso. Lula sublinhou que o Brasil viverá momentos "de combate democrático".
10. A pecha de 'conspirador' e 'golpista' pode pegar em Temer, ainda mais após áudio enviado por engano
Além de Cunha, Temer está na mira dos discursos de Dilma na tentativa de se defender do impeachment. Ela já acusou o vice-presidente de ser golpista e conspirador. O vazamento do "áudio da vitória" de Temer por WhatsApp reforça a tese petista de que Temer vem agindo para apear Dilma do cargo. Colar a imagem de "traidor" ao vice-presidente não é tarefa difícil para a máquina de propaganda do PT. Assim, a rejeição a Temer só tende a crescer...
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